Depois de se benzer e de
beijar duas vezes a medalha de são José, dona Inácia tinha fé em são José que choveria até
abril.
Na mesa de jantar uma
grande toalha vermelha de xadrez, duas xícaras e um bule, anunciavam a ceia.
Dona Inácia, chamava Conceição
para o café.
A moça levantou-se da
rede onde estava, sentou-se a mesa e pôs-se a cear, calada e distraída.
A velha ainda falou
alguma coisa, e foi fumar no quarto.
Conceição com o farol de
querosene nas mãos, passou diante do quarto da avó, e foi para o seu quarto.
Colocou a luz sobre uma mesinha, e pôs-se um tempo a janela, olhando para o
céu.
Ao soprar um vento frio,
fechou a janela, e foi a estante. Bocejando, procurou um livro, escolheu uns
quatro ou cinco livros, que pôs na mesa junto do farol.
Pegou o primeiro que
alcançou e começou a ler.
Até que Dona Inácia
ouvindo o cuco do relógio cantar 12 horas, mandou a menina apagar a luz e ir
dormir.
Encostado a uma árvore
seca, Vicente dirigia a entrada de rama verde ao gado.
Reclamava da seca. Queria
ir pro Quixadá. Uma vaca que se afastava chamou atenção do menino que deu um
grito chamando o vaqueiro.
O João Marreca olhou para
o animal que estava cheio de verrugas pretas. Vicente ainda avisou que
precisava de carrapaticida e também que da vontade de deixar um morrer por
causa do calor, da falta de comida.
Mas, Dona Maroca das
Aroeiras deu ordem que se não chover o dia de São José, abrir as porteiras e
deixar o gado ir embora.
Encostado ao mourão da
porteira, o vaqueiro das aroeiras, Chico Bento, observava dolorosamente o gado
sair do curral e sumindo ao longe numa nuvem de poeira.
Saindo o último boi,
Chico Bento fechou a porteira e foi caminhando vagarosamente e foi sumindo lá
longe assim como o gado numa nuvem de poeira.
Chico Bento já avistava a
cara de taipa sob o sol quente de verão.
Foi entrando devagar com
as costas curvadas.
La fora, um menino fazia o
cachorro ganir, cutucando-se com uma varinha.
Agora Chico Bento como único
recurso só restava ir embora. Sem comida, sem serviço não havia de ficar ali
morrendo de fome enquanto a seca durava. No dia seguinte saíram em direção ao
Norte.
Conceição e dona Inácia, também
não queriam ficar no logradouro.
Passado dois dias, no
trem na estação de Quixadá, Conceição, auxiliada por Vicente, e a acomodando
dona Inácia.
A cesta de plantas
debaixo do banco. Uma maleta cheia de santos ali ao lado.
Chegou a hora da
despedida: Abraços, beijos e lagrimas, junto com a saudade.
O trem apitou forte; ia
marchando devagarzinho, e foi sumindo numa curva.
O filho de Chico Bento ia
ao meio da carga, amarrado por pedaços de pano.
De vez em quando levava
as mãos aos olhos e fazia rah! rah! ah! ah! numa tentativa enrouquecida de
chorar. Cordulina chegava perto para tentar consolar o menino.
Depois de algum tempo
andando ouviram um bé! Agudo e longo.
É uma cabra ruiva, com o focinho
preto estendeu a cabeça por dentre os galhos no caminho.
Com cuidado o vaqueiro
avançou um passo, tirou do cinto uma faca, velha e gasta, abriu no animal um
corte que foi de debaixo da boca até dividi-lo em duas partes.
Um homem vinha rápido em direção
a eles, agitando os braços, e com raiva, afirmava que a cabra era dele.
Chico bento, tanto
desnorteado deixou a faca cair e dava explicações confusas.
A faca brilhava no chão,
ainda ensangüentada e atirou os olhos de Chico Bento.
O homem, sem se importar
com o sangue, pusera no ombro o animal.
Envolvido no coro e
marchava para casa cujo telhado vermelhava lá além.
No dia seguinte em Quixadá,
encontraram Conceição que tirou deles a idéia da cabeça de ir pro Norte.
Dera-lhe então passagens
para São Paulo.
Passados dois dias, no
trem, na estação de Quixadá, Chico Bento, com Cordelina e as crianças se
preparava para ir à São Paulo.
O trem apitou forte e
ia marchando bem devagarzinho ate que sumiu numa curva.
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